Hospital Geral de Fortaleza atende a mulheres com prolapsos genitais

7 de março de 2016 - 17:12

Foto: Assessoria de Comunicação do HGF

No Hospital Geral de Fortaleza (HGF), da rede pública do Governo do Estado, mulheres recebem tratamento através do ambulatório de uroginecologia, que atende uma média de 30 pacientes por semana com prolapsos genitais, popularmente conhecidos como bexiga baixa ou útero caído, e outras enfermidades relacionadas à função pélvica, como a incontinência urinária. O atendimento é feito por uma equipe multidisciplinar formada por médicos ginecologistas, enfermeiras e fisioterapeutas.

Os prolapsos genitais são resultado do enfraquecimento dos músculos e ligamentos da região pélvica que causa o deslocamento de órgãos como útero, bexiga e reto. O problema é mais comum do que se imagina, embora muitas mulheres acreditem que seu caso é único e, constrangidas, não procurem tratamento. Os prolapsos podem surgir em qualquer idade, mas a incidência é maior a partir dos 50 anos, quando afeta três em cada 10 mulheres, comprometendo o desempenho físico, social, no trabalho e a sexualidade.

De acordo com o ginecologista coordenador do ambulatório, Ananias Vasconcelos, as pacientes com prolapsos genitais chegam ao consultório buscando cirurgia para resolver o problema, no entanto muitas mulheres não podem ser operadas. “Algumas pacientes não estão em condições clínicas de passarem por uma cirurgia, como cardiopatas e diabéticas descompensadas. Há ainda pacientes que simplesmente têm medo de cirurgia e não querem fazê-la”, explica.

A boa notícia é que nessas situações há uma alternativa. É feito um tratamento conservador com pessários vaginais. Os pessários são dispositivos de silicone, de vários formatos e, quando inseridos na vagina, sustentam os órgãos pélvicos impedindo a sua exteriorização. Atualmente, 40 pacientes do hospital são tratadas com êxito dessa maneira.

Uma delas é a dona de casa Francisca Marina dos Santos Menezes, 80 anos. Ela mora em Pacajus, teve 14 filhos, todos de parto normal, e desde setembro do ano passado frequenta o ambulatório do HGF, onde aprendeu a utilizar o pessário. Diagnosticada com prolapso em estágio 3 (numa escala que varia de 0 a 4), ela conta que sentia um extremo desconforto na região pélvica e não conseguia controlar a urina.
“Comecei a notar uma bola saindo da vagina e fiquei assustada. Também já não conseguia mais fazer as tarefas de casa, pegar peso. Precisava ir direto ao banheiro. Acordava umas três vezes à noite para urinar. Era horrível. Fui ao posto de saúde e o médico me encaminhou para o HGF. Minha vida melhorou 100%. Hoje me sinto curada, faço de tudo. Não sinto reação nenhuma e até me esqueço que existe um dispositivo dentro da vagina. A sensação é de ter recuperado a liberdade”, relata.

A enfermeira Camila Vasconcelos, professora doutora do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará  (UFC), que faz parte da equipe de pesquisa em uroginecologia do HGF, informa que no início, assim como a maioria das mulheres, Marina tinha receio de usar o pessário. “As mulheres com prolapso, geralmente mais idosas, são de uma geração em que tocar no próprio corpo era tabu. Isso causa certa resistência quando apresentamos o pessário, afinal elas precisam retirá-lo uma vez por semana para higienizá-lo. Mas, temos conseguido vencer essa barreira com muita orientação e informação”, declara. Para auxiliar as enfermeiras e a equipe de saúde nessa tarefa, foi produzido um vídeo, fruto da dissertação de mestrado da enfermeira Karine Bezerra, que será exibido nas consultas de futuras pacientes com depoimentos reais de mulheres atendidas no HGF que já utilizam o dispositivo e mostram os efeitos positivos do tratamento em suas vidas.

Orientação
O tratamento com o pessário começou a ser adotado no Hospital Geral de Fortaleza em 2012. O trabalho realizado no HGF com os pessários passou a ser reconhecido nacionalmente e os profissionais envolvidos são convidados a participar de eventos científicos para apresentar o trabalho desenvolvido na unidade.

Camila Vasconcelos explica que o dispositivo não é disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas que todo o acompanhamento é feito no hospital. Após a consulta com o ginecologista, a paciente recebe orientações da equipe de enfermagem que, com um modelo de pelve, mostra o que acontece com o corpo da mulher e apresenta, com mais detalhes, o funcionamento do pessário.

“A paciente pode manusear o pessário para que ela sinta sua textura e veja que é um dispositivo simples, que não causa dor. Tiramos todas as dúvidas, vemos qual o tamanho mais adequado para o corpo da paciente e explicamos que é uma excelente opção, mas ela não é obrigada a aceitar. O que a gente sugere é que ela teste, que dê uma chance a esse tratamento”, diz a enfermeira.

O mesmo dispositivo pode ser utilizado por até dois anos. No Hospital Geral de Fortaleza, é feito um treinamento com a paciente, acompanhante, marido, filhos ou qualquer pessoa de confiança da mulher sobre como utilizar corretamente o pessário, como fazer sua higienização e os cuidados necessários.

Fatores de risco
O prolapso genital pode ser atribuído a uma combinação de condições que varia de paciente para paciente. Em geral, é decorrente principalmente da idade e do número de gravidezes e partos vaginais. Mas, pode ocorrer também em mulheres obesas, com constipação crônica ou tosse crônica (fumantes ou asmáticas), casos em que a pressão intra-abdominal é mais intensa.    

A tendência, segundo os médicos, é que haja um crescimento considerável desse tipo de patologia já que a expectativa de vida da mulher brasileira aumenta cada vez mais. O prolapso não é fatal, mas pode provocar complicações graves. A principal delas é a retenção urinária, que leva a insuficiência renal, o que pode provocar a perda de um rim. O pessário se apresenta como uma alternativa viável uma vez que praticamente não apresenta contraindicação. Ele só não pode ser usado por mulheres com câncer vaginal.

De acordo com o ginecologista Ananias Vasconcelos, a paciente precisa ser muito bem acompanhada para descartar infecções vaginais ou qualquer complicação. “Nas consultas de retorno, avaliamos se a paciente está utilizando corretamente o pessário. No geral, a aceitação ao pessário é muito boa. E ainda aproveitamos para avaliar a saúde feminina como um todo, solicitando mamografia, ultrassom e os demais exames necessários para prevenir outras doenças. O resultado do pessário é tão animador que temos oferecido a todas as pacientes que nos procuram. Hoje elas tem a opção de escolher um tratamento cirúrgico ou não”, explica o médico.

Assessoria de Imprensa do HGF
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