Ingestão de álcool na gravidez eleva risco de depressão
19 de julho de 2010 - 16:32
O consumo de álcool na gravidez está relacionado a sofrimento psiquiátrico durante e após a gestação. Segundo o estudo Uso de álcool na gestação e sua relação com sintomas depressivos no pós-parto, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, existe uma associação entre o aumento de sintomas depressivos na gravidez e no pós-parto e o aumento de ingestão de bebidas alcoólicas.
A psicóloga Poliana Patrício Aliane, autora do estudo, afirma que não há uma única causa da depressão em gestantes.
– São vários fatores de risco que contribuem para um desfecho –, descreve.
– Pré-disposição genética, insatisfação na vida pessoal ou na relação conjugal, são alguns desses fatores e o consumo de álcool vem se juntar a eles.
A pesquisa também indica uma maior prevalência de depressão pós-parto entre as mulheres que tiveram ao menos um binge alcoólico durante a gravidez. O binge é caracterizado pela ingestão de cinco ou mais doses alcoólicas em uma única ocasião, sendo que uma dose contém 12 gramas de álcool puro.
– Uma lata de cerveja, por exemplo, contém uma dose de álcool –, descreve Poliana.
O estudo trabalhou na análise de um grupo de 177 mulheres grávidas. A média de consumo encontrada por gestante foi de 163,7 gramas de álcool ou quase 14 doses ao longo dos nove meses de gestação.
– Essa é uma quantia elevada se levarmos em conta que o recomendado é que não se consuma nada –, explica Poliana.
– Qualquer consumo já impõe um risco à saúde do bebê. Não existe um valor mínimo de segurança.
Outro novo fator encontrado foi um predomínio de sintomas depressivos ao longo da gestação e não no pós-parto. Do total de gestantes, aproximadamente 20% apresentaram sintomas de depressão durante a gravidez, ante 14,7% que se mostraram deprimidas no pós-parto.
Os sintomas da depressão em qualquer pessoa, seja ou não gestante, podem ser divididos em dois grupos. Os sintomas do grupo principal são um sentimento constante de tristeza e desânimo e a chamada anedonia, caracterizada pela perda de interesse e prazer pelo que antes proporcionava tais sensações. Alterações de apetite e de sono, cansaço excessivo, falta de energia e dificuldade de concentração fazem parte do grupo de sintomas secundários.
Para a depressão ser diagnosticada, o paciente deve apresentar ao menos um sintoma do grupo principal e três ou quatro do secundário. Porém, no caso da depressão pós-parto algumas características particulares podem estar presentes.
– Algumas mães passam a ter pensamentos obsessivos e sentimentos ambivalentes acerca do bebê e sentem opressão pela responsabilidade de cuidar dos filhos –, explica Poliana.
O quadro depressivo pode ser superado com tratamento psiquiátrico e psicológico, no qual as possíveis causas envolvidas são exploradas para serem tratadas ou amenizadas. De acordo com o grau da doença, remédios também podem ser prescritos pelo psiquiatra.
Atualmente, Poliana trabalha no desenvolvimento de um protocolo de intervenções breves para reduzir o consumo de álcool na gestação.
– As intervenções exigem alguma adaptação porque o uso de álcool durante a gravidez traz mais consequências, como maior risco de aborto, de partos prematuros e riscos para o próprio bebê –, explica.