Helicobacter pylori. O inimigo número “um” do estômago

13 de maio de 2010 - 03:00

A bactéria H. Pylori está relacionada aos casos de câncer de estômago, o segundo que mais mata homens e mulheres no Ceará. Entre os homens, só perde para o câncer de próstata e entre as mulheres, para o câncer de mama. No Brasil, ele ocupa o 3º lugar entre os homens e o 5º entre as mulheres. De acordo com estimativas do Inca, Instituto Nacional do Câncer, para 2010, são esperados 17,34 casos de câncer de estômago para cada 100 mil homens e 9,94 casos para cada 100 mil mulheres. Os números são um alerta para que as pessoas voltem a sua atenção para um velho inimigo do estômago: a bactéria H. Pylori.

Enquanto a maioria das pessoas acredita que o estresse pode ser o principal responsável pelo aparecimento de gastrites ou úlceras no estômago e duodeno, o chefe do serviço de Gastroenterologia do HGF, Sérgio Pessoa, afirma que sua causa mais freqüente é uma associação de fatores, no qual se destaca a presença da bacténa Helicobacter pylori. A eliminação dessa bactéria traria um sucesso de cura em cerca de 90% dos casos.

Atualmente sabe-se que importância de eliminar o H.pylori vai além curar úlceras e gastrites, pois a bactéria também está relacionada ao surgimento do câncer do estômago. Embora no período de 1998 a 2007, a taxa de mortalidade relacionada ao câncer de estômago tenha caído entre homens e mulheres, é preciso ficar atento a este fator de risco.

A bactéria pode destruir células que produzem o ácido clorídrico. Estabelece-se, então, um quadro de gastrite atrófica com risco conhecido para câncer. Dos fatores que predispõem indivíduos de uma população de risco ao câncer gástrico, o H.pylori é o mais importante”, explica Dr. Schlioma Zaterka, presidente do Núcleo Brasileiro para o Estudo do H.pylori. E, termos epidemiológicos, o H.pylori é o agente infeccioso crônico mais disseminado entre os seres humanos (cerca de 60% da população mundial). Sua frequência aumenta com a idade, sendo que, nos países desenvolvidos, a maior incidência é em adultos acima de 65 anos, enquanto naqueles em desenvolvimento, como no Brasil, a bactéria se manifesta ainda na infância, apresentando índices já acima de 50% e aumentando com o decorrer dos anos.

H. pylori
Descoberta em 1983 na Austrália, a bactéria chamada Helicobacter pylori é um microorganismo que tem como habitat natural o estômago. Em quase todos os casos de inflamação da mucosa, ela está presente. Pesquisadores demonstraram que o microrganismo infecta a mucosa gástrica de quase todos os pacientes com úlceras, sejam elas gástricas ou duodenais, e da maioria dos pacientes com gastrites.
Não se sabe ao certo como se adquire a Helicobacter pylori. Alguns estudos parecem indicar que ela pode ser transmitida através da água, reforçando a idéia de uma transmissão pela via oral-fecal.

Mais de um diagnóstico disponível
De maneira clássica, o exame mais utilizado para o diagnóstico de gastrites ou úlceras tem sido a endoscopia. Neste exame, é colocado um tubo no estômago do paciente, que permite examinar visualmente o aspecto da mucosa gástrica. Para se verificar a presença da bactéria, retira-se através do próprio endoscópio um minúsculo pedaço do tecido, que é submetido a um teste. É óbvio que nova endoscopia é feita depois do tratamento, para se verificar se a úlcera está, realmente, cicatrizada.

Outros dois exames para a verificação da presença da bactéria estão disponíveis no Brasil,  com a grande vantagem de serem menos invasivos.  Um exame de sangue, mais precisamente do soro do paciente, permite pesquisar a existência de anticorpo específico para a Helicobacter pylori e um exame bastante sensível verifica a presença da bactéria através da análise dos gases da respiração. O teste baseia-se no seguinte: a Helicobacter pylori decompõe rapidamente a uréia, numa reação que libera gás carbônico. O paciente bebe uma solução de uréia com carbono marcado. Caso a bactéria esteja presente no estômago, ela irá decompor a uréia, gerando grande quantidade de gás carbônico, que passa para o sangue do paciente e acaba sendo eliminado através da expiração. 

O tratamento por antibióticos 
Acaba-se com a infecção utilizando antibióticos por um período de uma semana. Os tratamentos com antibióticos permitem rápida cicatrização da úlcera, de forma aparentemente permanente. É interessante notar que os medicamentos à base de metronidazol, utilizados com muito sucesso na Europa, não são tão eficazes no Brasil. Uma das hipóteses é que esses remédios são freqüentemente receitados no Brasil para tratar a giardíase e a amebíase; isso pode ter selecionado populações resistentes da Helicobacter pylori, que não seriam mais suscetíveis à substância. É por este motivo que outro esquema de tratamento vem sendo utilizado: furazolidona, associada a bismuto e tetraciclina, durante uma semana, com 90% de eficácia.