“Sou a prova de que o amor existe e transforma”: a história de Lídia dos Anjos

21 de maio de 2025 - 08:34 # # # # #

Assessoria de Comunicação do HGF
Texto: Eva Sullivan
Fotos: Arquivo pessoal
Arte: Eva Sullivan

Mais do que um centro de referência em saúde, o Hospital Geral de Fortaleza é, há 56 anos, cenário de reencontros com a vida. Neste aniversário, resgatamos histórias de pessoas que encontraram, no hospital, não apenas tratamento, mas também sentido, coragem e transformação.

Foto: Mateus Falcão

A trajetória de Lídia dos Anjos se entrelaça à do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), equipamento da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). Artista, transplantada e sobrevivente, a fortalezense de 38 anos carrega no corpo e na alma a história de uma nova vida.

Quando perguntam quem é Lídia dos Anjos, ela responde com o coração aberto e o sorriso largo: “Sou a prova de que o amor existe e transforma. Ser transplantada é carregar esse símbolo dentro de mim todos os dias. É representar a grandeza de alguém que, mesmo em sua despedida, escolheu fazer outras vidas continuarem. Escolheu que o amor falasse mais alto”, conta, entre lágrimas.

Desde muito pequena, Lídia já trazia a arte dentro de si. “Quando dei meus primeiros passos, já era dança. Quando memorizei uma imagem, já era fotografia”, reforça. Ainda assim, crescer em meio a dificuldades financeiras exigiu que ela, desde jovem, pensasse em caminhos mais seguros. Sonhou ser professora, considerou engenharia, estudou matemática e física, mas a arte, silenciosamente, nunca deixou de pulsar mais forte.

E aos 23 anos, Lídia precisou enfrentar a dura rotina da hemodiálise, consequência de uma doença renal crônica. Entre sessões de tratamento e sonhos de faculdade, foi no HGF que encontrou força para uma longa jornada de resistência e esperança. “Quando entrei no hospital, fui acolhida com tanto amor que nunca me senti desamparada”, relembra.

Entre máquinas e procedimentos, encontrou carinho em cada gesto: na enfermeira que lembrava de sua alergia ao esparadrapo, no técnico que segurava sua mão antes de um procedimento doloroso, no sorriso de um médico que, encantado, perguntava como ela conseguia sorrir mesmo diante de tantas adversidades. “Eu sorria porque estava viva. Porque acreditava que sobreviveria”, conta.

Foto: Fenda Fotografia

Ainda durante o período da hemodiálise, Lídia recebeu um gesto de generosidade que a ajudaria a manter seus sonhos vivos. Uma médica que a acompanhava, apresentou-a ao professor Davi Teixeira, do IFCE, que decidiu apadrinhá-la, custeando seu cursinho no Programa de Pré-Vestibular da UFC. “Foi como ganhar uma passagem para um futuro que eu ainda queria construir, sabe?”, relembra.

As sessões de hemodiálise não eram fáceis. Eram dias de luta contra o cansaço, contra o corpo exausto. Mas, Lídia seguia em frente. Estudava enquanto aguardava sua vez na máquina, levava livros e materiais, e alimentava a esperança no transplante. Durante o período de internação, dividiu momentos inesquecíveis com outros transplantados, como assistir juntos aos jogos da Copa do Mundo.

No caminho, encontrou forças também no projeto Rim Art, uma iniciativa que reúne pacientes transplantados e da ala de hemodiálise do hospital para a produção de artesanato. Mesmo sem participar diretamente do grupo, Lídia sentia-se inspirada por eles. “O Rim Art me mostrava que a gente ainda podia construir, criar, viver. Elas seguraram minha mão, mesmo sem saber”, diz.

Após anos de tratamento e incontáveis exames, veio a notícia que mudaria sua história. Era uma manhã de maio de 2010 quando, durante uma consulta, Lídia foi finalmente liberada para entrar na fila de transplante. “Quando soube, pedi para ir correndo fazer os exames necessários. Não queria esperar nem mais um dia”, conta.

Dias depois, enquanto ainda assimilava a alegria e o nervosismo da possibilidade, recebeu a ligação que tanto esperava: seria transplantada. “Eu já sabia que era o meu momento. Era o descanso que tanto pedia a Deus”, relembra.

A preparação para o transplante foi cercada de emoção. Mesmo diante do risco, entrou no centro cirúrgico como quem abraça um novo destino. O pós-operatório trouxe desafios. Complicações exigiram uma nova cirurgia e noites de vigília ao lado da equipe médica. Mas o cuidado e a dedicação dos profissionais do HGF fizeram toda a diferença.

“É bonito demais sentir que sua vida importa para alguém. O cuidado que recebi no HGF é algo que levo comigo até hoje”, afirma. A recuperação foi celebrada em pequenos gestos: poder caminhar novamente, beber um copo de água sem restrições e sonhar de novo.

Foto: Naya Olliveira

A arte, que sempre esteve presente em sua vida, encontrou novo fôlego após o transplante. Incentivada por amigos e pelas experiências que viveu, Lídia voltou a dançar, ingressou no teatro e, mais tarde, formou-se em Artes Cênicas. Sua pesquisa acadêmica, “A Voz da Minha Pele”, representa tudo que viveu, desde as dores, desafios, os sonhos e a resistência.

Lídia dos Anjos é uma artista de corpo inteiro. Um corpo que guarda cicatrizes, memórias e uma história feita de superação, mas, acima de tudo, de amor. “Eu nunca quis me desvincular da minha história. Cada cicatriz, cada lembrança, faz de mim a artista que sou”, defende.

Hoje, Lídia celebra não apenas o que conquistou, mas também o que pode recomeçar. É possível perceber, na voz e no jeito, o quanto o hospital representa para ela: cuidado, dignidade e renascimento.

“Eu sou artista, sou transplantada e sou muito grata a cada pessoa do HGF que cuidou de mim. Eu sou a prova de que o amor salva, e o HGF faz parte da minha história para sempre. Cada um faz parte dessa vida que hoje eu abraço com tanta força”, finaliza.