“Trabalhar com gente”: o papel do serviço social no HGF
15 de maio de 2025 - 08:14 #HGF #Humanização #Serviço Social
Assessoria de Comunicação do HGF
Texto: Filipe Dutra
Fotos: Mazé Reis, Filipe Dutra e Arquivo pessoal
No dia 15 de maio, é comemorado o Dia do Assistente Social. No âmbito hospitalar, este profissional tem uma função muito importante: auxiliar o paciente além do aspecto clínico, levando em consideração a vida e os direitos da pessoa que procura os serviços do hospital. Não é uma missão fácil, mas é realizada com muita determinação e, acima de tudo, muito amor.
Marcos Feitosa, assistente social do serviço de Hematologia do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), equipamento da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), não se via como tal. “Fui convidado por um colega para fazer o vestibular no Rio Grande do Norte”, relata ele.
Trabalhando no HGF há oito anos, ele passou por vários setores até chegar na hematologia – uma área que trata das doenças relacionadas ao sangue e à medula óssea, aos linfonodos, ao baço e aos gânglios linfáticos. Por sua característica (muitos dos pacientes precisam ficar em isolamento durante a internação), o trabalho do assistente social teve muitos desafios. “No início, inclusive, era muito básico. A gente não tinha visita no setor, existia apenas um boletim médico. Era aquela visão bem biomédica mesmo, em que o paciente vinha apenas para ser tratado, e as outras questões que o contemplavam como sujeito ficavam em segundo plano”, lembra Feitosa.
Além de acompanhar e implementar uma série de medidas que aprimoraram este contato, ele também passa essas medidas para a frente através da preceptoria da residência em Cancerologia pela Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE). “A gente precisa estar preparado para receber o paciente. Não só para agir: isso nós já somos preparados na academia. Temos que estar preparados para reagir, para intervir naquelas situações que fogem do cotidiano, que fogem das rotinas, que não estão nos fluxos ou nos protocolos, ensina.
A assistente social Juliete Janinié Gadêlha Luiz atua no setor de Obstetrícia do HGF, outro setor no qual o serviço social é tanto requisitado quanto necessário. “Ela [a Obstetrícia] exige dinamismo. São mulheres que permanecem de 24 a 48 horas internadas, mas também há casos de internação por 30 dias, dependendo da complexidade. São perfis muito diversos e complexos, e é preciso ter sensibilidade para olhar para essa usuária e compreendê-la de forma ampla, não de maneira isolada, mas de forma mais subjetiva”, analisa.
Assim como Marcos, ela também passou por vários setores até chegar onde está. E enxerga seu papel dentro da Obstetrícia: “As expressões da questão social estão imersas ali. Encontramos um universo muito vasto para estudar, conhecer e entender. E quem trabalha na Obstetrícia consegue atuar em qualquer área”, orienta Juliete.
Daniele Ribeiro Alves atua na Emergência do HGF e também reforça a necessidade de acolhimento dos pacientes, levando em consideração sua vivência e o que o levou até ali. “A atuação do serviço social está relacionada aos aspectos sociais, econômicos e culturais, que interferem e determinam o processo de saúde e doença daquele sujeito. Devemos ter um olhar muito ampliado naquele momento, mesmo diante da avalanche de demandas e da própria situação crítica e imprevista que caracteriza a emergência”, relata.
Justamente por este ritmo, a profissional, que possui formação também em Ciências Sociais e doutorado em Sociologia, entendeu melhor a importância de se respeitar as individualidades de cada paciente. “Aprendi que não há receitas prontas para atender pessoas, que cada sujeito tem suas complexidades e demandas diversas; que ali não é apenas um corpo, mas que aquele sujeito tem nome, tem história, tem suas necessidades”, conta Daniele.
Reconhecimento conquistado
O serviço social dentro do ambiente hospitalar, por muito tempo, era desconhecido por outros setores. Marcos conta um exemplo de casa. “Minha mãe, minha maior referência, uma enfermeira que trabalhou a vida toda com assistentes sociais, sempre me dizia: ‘Eu nunca entendo o que o assistente social faz. Como é que você vai estudar para isso?’. Porém, a partir do momento em que comecei a conhecer, de fato e profundamente, o que o assistente social faz, qual é a carga de conteúdo que recebemos na faculdade, acabei disseminando isso para ela também, e ela até passou a ver as colegas de trabalho com outro olhar”, diz, com orgulho.
O tempo e o trabalho, de fato, mostram a importância do serviço social no processo de alta de um paciente. “Apesar de haver alguns profissionais que ainda não compreendem o nosso papel como assistente social, muitos entendem a nossa importância. Tanto é que somos a única unidade que segue, veementemente, um processo de alta social — que ocorre quando o paciente já se encontra de alta, mas pode não sair do hospital enquanto aguarda um parecer do serviço social. Isso acontece exatamente porque o nosso público é mais vulnerável. A equipe, então, nos dá essa liberdade, essa abertura e compreensão sobre o trabalho do assistente social. Apesar de ainda haver demandas que não são nossas, que acabam sendo direcionadas para nós, temos o respeito dos profissionais, principalmente no que diz respeito à busca pela garantia de direitos”, detalha Juliete.
Daniele reforça o papel socioeducativo do Serviço Social: “Como profissionais, também informamos sobre os direitos dos usuários e dos acompanhantes — quais são seus direitos ali, dentro da perspectiva do Sistema Único de Saúde, seus deveres, suas orientações, inclusive quanto ao acesso a direitos previdenciários e trabalhistas”.
“Ainda existe a visão de que nós estamos aqui para quebrar fluxos, quando, na realidade, não. Nós estamos aqui para enxergar além dos fluxos. A gente enxerga o sujeito na sua complexidade, na sua plenitude”, complementa Feitosa, no que Juliete acrescenta: “Tentamos, dentro do hospital, promover uma movimentação que permita encaminhar esse usuário da melhor forma possível. Ainda que nem sempre consigamos, nós tentamos”.
Cuidado com o outro
Ao serem questionados sobre do que mais eles se orgulham na profissão, ambos enunciam: o cuidado amplo com o paciente.
“Me orgulho de muitas coisas da minha profissão, mas o que eu mais me orgulho de fato é de conseguir enxergar além da aparência física, além daquela pessoa ríspida, além de, de fato, assim, ir profundamente, conhecer de fato o usuário na sua plenitude”, diz Feitosa.
A atenção é observada por quem faz parte da vida destes profissionais, como relata Juliete: “Eu brinco que meu filho costuma dizer que, quando perguntaram para ele o que a mamãe dele fazia, ele respondeu: ‘A mamãe resolve o problema dos outros’. Queria eu poder resolver todos os problemas, mas ser assistente social, para mim, é multiplicar o conhecimento que eu possuo — e esse conhecimento proporcionar àquela pessoa o acesso ao direito que é dela”.
Daniele também enumera o que, em sua visão, lhe dá mais orgulho em ser assistente social: “A capacidade de atuar de forma crítica , reflexiva e a habilidade diferenciada de analisar e intervir nas expressões da questão social, de forma ética e comprometida com a transformação social”, pontua.