Epilepsia: sintomas, tratamentos e mitos sobre a doença

20 de março de 2025 - 15:52 # # #

Assessoria de Comunicação do HGF
Texto e fotos: Filipe Dutra

Pessoas com epilepsia podem ter uma vida normal, se acompanhadas clinicamente.

 

Uma pessoa com epilepsia carrega mais do que a possibilidade de convulsionar-se incontrolavelmente: carrega o preconceito em relação a uma doença que é tratável. E séria: 25% de seus portadores no Brasil estiveram em estado grave, segundo um levantamento feito em 2023 pela Secretaria de Atenção Especializada do Ministério da Saúde.

As crises ocorrem devido a descargas elétricas excessivas de um grupo de neurônios no cérebro, que podem acontecer de diferentes formas. O diagnóstico é feito de maneira clínica, baseado nos sintomas relatados pelo paciente e por seus familiares. “É estabelecido de que a pessoa deve apresentar duas crises espontâneas num intervalo maior que 24 horas para a epilepsia ser diagnosticada, além de exames que reforcem a possibilidade de outra crise”, define José Hortêncio dos Santos Neto, neurologista e integrante do ambulatório de Epilepsia do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), equipamento da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).

Hortêncio explica que as crises epilépticas ocorrem principalmente durante a infância, entre o primeiro e o segundo ano de vida, e a partir dos 70 anos.  “Há muitas causas para a epilepsia.  Na infância é, geralmente, por acidentes ginecológicos, pelo desenvolvimento da própria criança, às vezes genético. Já entre idosos, acontece por conta de acidentes vasculares cerebrais (AVCs), pancadas ou outras coisas que acontecem na idade”, detalha. 

O tratamento para a epilepsia é, basicamente, medicamentoso, havendo a possibilidade de cirurgia para casos selecionados. Se bem tratada, a pessoa pode seguir sua vida normalmente, exceto pilotar motocicletas ou realizar atividades de alto risco, como esportes radicais.

Epilepsia e convulsão: cuidados e mitos

 

A epilepsia é comumente associada à convulsão. Entretanto, essa manifestação involuntária do corpo, ocasionada por uma atividade anormal do cérebro, pode ser causada por outros fatores – inclusive pela epilepsia.  “Uma pessoa alcoolizada, desidratada por perder muito sódio ou com diabetes também pode ter convulsões”, explica Hortêncio.

Por se tratar de uma situação em que o indivíduo perde o controle sobre o corpo, o neurologista do HGF faz uma série de orientações sobre como agir ao presenciar uma convulsão.  “Em primeiro lugar, manter a calma – uma crise convulsiva, geralmente, dura poucos minutos. Depois, a pessoa convulsionada deve ser protegida. Ela não deve ser agarrada ou contida, mas, sim, estar afastada de quaisquer objetos que estejam próximos dela. É preciso também proteger sua cabeça, para evitar que ela se machuque”, diz.

Outro aspecto da convulsão é o mito de que, durante uma crise, é necessário proteger a língua da pessoa. Hortêncio esclarece por que isso não é verdade.  “Ninguém engole a língua. A gente pede que não se coloque algo na boca da pessoa, pois ela pode machucar a si e a quem está auxiliando. O que se deve fazer, sim, é virar a cabeça da pessoa para o lado, para que a saliva que estiver saindo da boca dela possa escorrer, além de não tentar conter a pessoa.”, orienta o médico do HGF.

Passada a convulsão e retornada a lucidez, orienta-se investigar a causa da crise, atentando-se aos critérios já mencionados. 

Alexsandra Gomes mostra fé e determinação para superar a epilepsia.

Preconceito e superação

 

A digitadora Alexsandra Gomes, 46 anos, teve sua primeira crise epiléptica aos dois anos de idade, após uma queda. Desde então, sua vida mudou. Precisava de dez medicamentos por dia para conter as crises, que, mesmo assim, não cessaram. “Nunca mais tive saúde”, relembra.

Mesmo em um ambiente de trabalho respeitoso, segundo ela, episódios de preconceito devido à epilepsia aconteceram. “Uma vez, em uma discussão, um colega chegou para mim e disse: ‘eu não vou nem falar mais com você porque você pode ter um ataque’. Sabe, eu fiquei chateada, mas isso foi superado”, conta a digitadora. 

Em 2015, ela iniciou seu tratamento no HGF e, no ano seguinte, teve a oportunidade de realizar uma cirurgia em Goiânia (GO), por meio de um contato entre a Sesa e a secretaria goiana de saúde. O procedimento foi um sucesso: Alexsandra não precisou mais de medicamentos, não teve mais crises e continua indo regularmente ao ambulatório para acompanhamento. “Sou muito bem acolhida aqui, graças a Deus. Me ajudaram muito”, agradece Alexsandra.

Casos como o da paciente do HGF são bastante comuns. “É uma doença que os pacientes sofrem muito: perdem emprego, têm dificuldade de relacionamentos e de estudos”, lamenta Hortêncio.

Epilepsia a fundo

 

Um aspecto interessante na carreira de Hortêncio é seu interesse pela epilepsia. De 1991 a 1994, o médico fez residência em Neurologia no Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), sendo seu último ano dedicado à Neurofisiologia Clínica, área que estuda a doença.

“Comecei a me interessar vendo semiologias, histórias de crises e resultados que a gente tem [ao tratar]. Foi na época também que começou a cirurgia de epilepsia, que, mesmo em pacientes super complicados, há condições de fazer uma cirurgia e essa pessoa ficar sem crise depois”, explica.

A diversidade das manifestações da epilepsia é algo que, para Hortêncio, deve ser observado durante uma consulta médica. “[Por exemplo,] uma crise do lobo temporal tem algumas características clínicas e a gente consegue ver isso com uma história bem feita. O segredo da epilepsia é a história; é conversar com pacientes”, pontua o médico. 

Ambulatório de epilepsia

 

Criado em 1996, o ambulatório de epilepsia do HGF é parte do setor de Neurologia da unidade. Funciona às quintas-feiras, mediante encaminhamento da rede primária de saúde, e atende preferencialmente casos mais crônicos. Anualmente, são atendidos, em média, 1.500 pacientes.