Trabalho noturno encurta a vida e prejudica saúde e casamentos
16 de julho de 2010 - 15:11
Os trabalhadores noturnos perdem cinco anos de vida para cada quinze de jornada de trabalho, se divorciam três vezes mais que o restante das pessoas, e têm 40% a mais de possibilidades de padecer de transtornos neuropsicológicos, digestivos e cardiovasculares. Estas são algumas das conclusões de diversos estudos com os quais os doutores Eduard Estivill, chefe da Unidade do Sonho do Instituto Dexeus de Barcelona, e Apolinar Rodríguez, responsável do Serviço de Neurofisiologia do Hospital da Paz de Madri, explicaram à Efe os riscos de tentar contradizer o sol.
O doutor Estivill assegurou que cerca de dois milhões de espanhóis têm horários noturnos ou rotatórios, jornadas que estão proibidas nos países nórdicos, onde não é permitido que os maiores de 35 anos trabalhem pela noite em função das despesas geradas para a Previdência Social. Entre os trabalhadores noturnos da Espanha, há muitos imigrantes latino-americanos.
Este especialista afirmou que os acidentes de trabalho com maiores conseqüências “costumam ocorrer de noite”. De fato, as estatísticas apontam que 90% dos incidentes mais graves são registrados nesse turno, como o que ocorreu com a usina nuclear de Chernobil (Ex-URSS/1986) ou o do petroleiro Exxon Valdez (Alasca/1989).
Insônia, irritabilidade, angústia, depressão, transtornos digestivos, ataques de pânico, doenças cardiovasculares por estresse crônico, dependências a tranqüilizantes, estimulantes ou álcool e tabaco são alguns dos costumes patológicos que acompanham os que trabalham fora do horário do sol, segundo os especialistas.
Estivill, cujos livros sobre transtornos do sonho figura entre os mais lidos, lembrou que o trabalho noturno não apenas desajusta a pessoas fisiologicamente ao sofrer uma redução de suas defesas imunológicas por insuficiência de luz, mas também produz desequilíbrios sociais e psicológicos em função do horário contrário aos demais.
A causa principal dos transtornos é que o descanso diurno é “pouco reparador”, já que durante o dia os parâmetros biológicos possuem constantes naturais diferentes às da noite, em que o organismo se prepara para descansar.
Segundo Estivill, os ritmos biológicos naturais e saudáveis coincidem com o dia e a noite, e a eles o cérebro responde enviando ao organismo ordens de atividade. “Não é possível enganar o corpo”, afirmou.
Com o trabalhador noturno, acontece um desajuste de seu ritmo “natural” que é traduzido em uma predisposição à fadiga. O doutor Apolinar Rodríguez, chefe do Serviço de Neurofisiologia do Hospital da Paz de Madri, assinalou que os transtornos geram astenia física e psíquica. O que influi é a “dificuldade para fazer esforços e a sensação de cabeça vazia”, assim como a “irritabilidade, intolerância às pequenas agressões do meio, e alteração das relações entre os companheiros de trabalho e família”.
“Os trabalhadores com idades mais avançadas são mais vulneráveis aos transtornos e têm mais risco de envelhecimento prematuro e aumento da morbidade”, indicou Apolinar, que esclareceu que cada ser humano tem uma maior ou menor adaptação a estes horários.
Tanto Rodríguez como Estivill coincidiram na necessidade do descanso para as pessoas que trabalham de noite, pelo menos meia hora, enquanto para o resto dos mortais deve limitar-se a cerca de vinte minutos, observaram em declarações à Efe.
Ambos apontaram que era preferível que estes empregados mantivessem seus hábitos em dias festivos, já que o corpo não pode ajustar-se em dois dias a um novo horário, e recomendaram que procurassem dormir em um ambiente totalmente isolado de ruídos e da luz.
Além disso, é fundamental manter um horário de alimentação normal que não altere o café da manhã, o almoço e o jantar, com a separação de horas freqüentes entre cada refeição. Os especialistas coincidem em que o adicional salarial por fazer este esforço não pode pagar o elevado custo de saúde e de problemas gerados pelo trabalho noturno. Por isso, é recomendável que seja feito por pessoas jovens e pelo “menor tempo possível”.
Fonte: Área Técnica de Saúde do Trabalhador – Departamento de Ações Programáticas Estratégicas – Secretaria de Atenção à Saúde – Ministério da Saúde – A Saúde do Trabalhador na Imprensa – Edição 9, enviado por Ligia Ximenes – Assessoria Técnica em Comunicação.